Projeto Serra Azul em Barra do Garças: O Patrimônio Esquecido Que Todo Mundo Diz Amar, Mas Quase Ninguém Defende
Barra do Garças tem um talento curioso: consegue ter um dos parques naturais mais impressionantes do Centro-Oeste e, ao mesmo tempo, deixá-lo praticamente abandonado. É quase um dom. A Serra Azul em Barra do Garças, que poderia ser a grande joia do turismo regional, continua servindo mais para discurso bonito do que para ação real. E o mais irónico é que ninguém pode dizer que faltou projeto — faltou atitude.
O Projeto Serra Azul, criado em 2016, estava pronto. Estruturado, bem pensado e alinhado com as melhores práticas de turismo sustentável. Um plano digno de cidade que quer crescer. Centro de visitantes, trilhas seguras, acessibilidade, sinalização adequada, transporte interno. Tudo pensado, tudo organizado… e tudo engavetado.
E aí surge a pergunta que insiste em voltar:
quem tem coragem de assumir que deixou isso parado?
Porque, sejamos sinceros, Barra do Garças fala da Serra Azul como se fosse um tesouro intocável, quando na prática trata o parque como um vizinho esquecido no fundo do quintal. Um lugar que todo mundo “acha lindo”, mas poucos realmente se importam em proteger, manter e desenvolver como patrimônio ambiental.
Esse abandono ajuda a explicar por que o turismo cresce na cidade, mas ainda enfrenta problemas sérios de estrutura e segurança, como já discutido no artigo Turismo em Barra do Garças cresce, mas falta normatização.
Enquanto isso, a burocracia faz seu show particular. Cada gestão que entra resolve recomeçar do zero, como se fosse proibido dar continuidade ao que já estava pronto. E assim a cidade vai perdendo tempo, dinheiro e oportunidades. É impressionante como um projeto tão claro consegue ser tão ignorado.
O resultado está aí, para quem quiser ver: trilhas deterioradas, acesso limitado, estrutura precária, incêndios florestais recorrentes, falta de segurança adequada e uma visitação muito abaixo do que um parque estadual com esse porte deveria ter. Situação que, inclusive, deveria ter acompanhamento constante de órgãos como o IBAMA e a SEMA-MT.
E o mais doído: o potencial turístico da Serra Azul continua enorme, mas parado.
Sabe aquela história de que “Barra do Garças tem tudo para bombar no turismo”? Tem mesmo. Basta olhar para atrativos como o Parque Estadual da Serra Azul e a Serra do Roncador. Só não tem coragem política, união e compromisso de longo prazo.
A Serra Azul poderia hoje estar entre os destinos turísticos mais organizados do Centro-Oeste, gerando empregos, movimentando a economia local e colocando Barra do Garças em destaque nos roteiros oficiais do Ministério do Turismo.

Mas não está.
Porque faltou prioridade.
E não adianta dizer que é falta de dinheiro. Falta é gestão pública séria, contínua e responsável. Daquelas que assumem um projeto e levam até o fim, em vez de inventar moda a cada mudança de gabinete.
Então fica aqui a provocação:
vamos continuar fingindo que não sabemos o que precisa ser feito?
Ou vamos, finalmente, tratar a Serra Azul como patrimônio natural e turístico, e não apenas como enfeite de foto?
Barra do Garças precisa decidir se quer passar mais uma década no “quase” ou se vai dar o passo que deveria ter dado lá atrás. O Projeto Serra Azul não é passado — é o futuro que estamos adiando.
E adiar, convenhamos, tem sido o erro mais caro.

Trackbacks/Pingbacks